Vocês já notaram como são bonitos os significados regularmente atribuídos à palavra grão? Desde a percepção da semente como o início da vida até a ideia dos pedacinhos que aos poucos formam um inteiro, o substantivo escolhido por Lilian Menenguci para dar nome ao seu novo livro deixa no ar a impressão de que tem poesia a caminho.
Os textos que se seguem, alinhadamente postos em ordem alfabética, confirmam o palpite inicial: “Grão” apresenta ao leitor pequeníssimos poemas de grande sensibilidade.
Em Achados e Perdidos, a autora brinca com uma aparente dúvida entre o medo e a coragem. Em Amor, também oscila: o veneno ou o remédio, e com qual intensidade? Em Argila, a hesitação – ela de novo, agora entre o medo e o desejo – é o barro do qual a narradora se diz feita.
Em Bonança, as coisas se assentam, se assim pode-se dizer, em cada momento da tempestade. Em Cócegas, quem determina o ritmo são as saudades e, em Esfinge, a sabedoria do tempo, temas caros a tantos poetas estes: o ritmo, a saudade, a sabedoria, o tempo.
Ato parece ser a Lilian atriz, produtora teatral, dramaturga de outras tramas escrevendo. Dúvida tem um quê da ativista questionadora, bem-intencionada e sensata. Conjugação talvez seja a Lilian autora de livros infantis, sucesso de público e crítica, conjugando com gestos e entonações o verbo borboletear, intransitivo.
Em Metáfora, temos uma modesta celebração do sonho – sem ele a vida vive e morre acordada, sentencia nossa poetisa. Novo, por sua vez, ainda me traz ao pensamento a Lilian defensora das causas ligadas à inclusão e acessibilidade, mais uma das inúmeras facetas da criadora deste “Grão”.
Composto por 73 poemas, o livro que temos pela frente é feito de amor, mas também de desejo, de ausências, de tempo, de calor e frio, de verdades, figuras de linguagem e pequenas estripulias textuais. É, de fato – vocês verão com os próprios olhos –, como o grão do poema que dá nome ao livro: inteiro, em pedaços.
Ana Laura Nahas | Jornalista e escritora